Filho de pai Santista e mãe corinthiana (hoje também Santista, com a graça de Deus!), crescido num ambiente familiar democrático, apesar do regime ditatorial vigente durante minha infância, escolhi o Santos FC como meu time, entre os 7 e 8 anos de idade, na época em que o futebol não dividia espaço com outros esportes. Ou se tinha um clube de futebol para torcer ou algo estava errado.
Até aqui, tudo bem… ou melhor, quase… Por influência de um insistente tio (que Deus o tenha!) que era fanático pelo corínthians, e pela massificação da conquista do título paulista de 1977, passei a “pensar” que eu poderia ser corinthiano, ainda que esse sentimento tenha ocorrido durante um curto intervalo de minha infância.
Cheguei até a vestir uma camisa daquele clube, presente de meu tio, com um bordado nas costas representando uma caveira, e com os dizeres “até a morte”. Algo um pouco forte para uma criança de apenas 7 anos de idade…
Por alguns meses, segui sendo “torcedor” daquele então campeão paulista (que não havia vencido um título em 23 anos, é bom que se diga!). Foi então que meu pai, homem sábio, percebeu que algo tinha de fazer, ou seu filho poderia sofrer serias consequências por conta da influência daquela “caveira de olhar sinistro”.
Um belo dia, chamou-me para uma conversa de pai para filho. O assunto? A rica e incrível história do Santos Futebol Clube… apenas isso!
Fiquei maravilhado ao escutar as proezas de Pelé & Cia… “Então o Santos é o único time do Brasil campeão mundial”? Perguntava… “Não apenas isso, é o primeiro clube na história do futebol a ser bi-campeão mundial”, respondia meu pai.
Seguimos na conversa por mais algum tempo… conforme ia me maravilhando com mais feitos e conquistas, meu pai também se empolgava e continuava… Em meu coração já não havia dúvidas, no entanto a razão pedia algo mais para consolidar aquele sentimento.
Por conspiração divina, ou obra do acaso, surgia naquele período a nova sensação do futebol paulista… “Os Meninos da Vila”… com Pita, Nílton Batata, Juary, João Paulo e outros craques, que já não eram tão meninos assim, como Aílton Lira, o gênio da bola parada. Em 1978/1979, esse era o time do momento!
Entusiasmado com o time do Santos, e já totalmente convertido, faltava o “batismo”… Foi então que meu pai decidiu levar-me ao estádio pela primeira vez, precisamente em 12-05-1979. Na programação, Santos e São Paulo, em pleno Morumbi, com um público de mais de 70 mil expectadores. Morávamos no interior de São Paulo, e tivemos uma longa viagem até a capital.
A felicidade não foi completa porque perdemos (San 1 x 2 São)… Nem por isso, deixei de me encantar com as jogadas rápidas dos Meninos da Vila, diante de um pesado, mas eficiente São Paulo. A imagem que mais ficou gravada foi sem dúvida o único gol do Santos, anotado por Claudinho (que havia entrado no segundo tempo), pois tratava-se do primeiro gol santista que eu viria, estando em um estádio de futebol.
Além do gol, algo iria marcar-me ainda mais… Tão logo os refletores do Morumbi se acenderam, como em uma hipnose, meu olhar ficou completamente atraído pelo brilho proveniente do branco da camisa do Santos, a alí ele se prendeu, num bailar de pérolas perfeitamente brancas e radiantes, até o apito final.
Apesar de menino e sem encontrar palavras para explicar, pude ver, perceber e sentir a magia do imaculado manto Santista… por alguns instantes, perdia-me em pensamentos, imaginando que estavam em campo, naquele fim de tarde, Zito, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe … os heróis de meu pai, e agora meus também.
Ainda naquele ano (1979), os Meninos da Vila se tornariam os campeões paulistas de 1978 (coisas do calendário do futebol brasileiro!), em cima do mesmo São Paulo, em final decidida em 3 jogos e prorrogação.
Foi assim que gritei “Santos Campeão” pela primeira vez! Assim se iniciava a minha mais antiga paixão!
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